A PREMIAÇÃO DA PREGUIÇA FANTASIADA DE ABSURDO

 



Da Série Nelson Rodrigues Renascido

 A PREMIAÇÃO DA PREGUIÇA FANTASIADA DE ABSURDO

Net 7 Mares

O “Toda Sua”, da Syvia Day, podes ainda ler em público, porque, com a moda neo-saramaguiana da escritora, provável macaca de auditório do Saramago, de, em vez do travessão, usar apenas aspas nos diálogos, os que se aventurarem a sair às ruas, sobraçando obras dela, não estarão sujeitos àqueles tratamentos discriminatórios.

 

Eu também erro algo na pontuação...” (Clarisse)

    Pontuação é o calcanhar de Aquiles de grande parte dos prosadores e poetas, e não foi por acaso que o Prêmio Nobel Saramago rebelou-se contra o travessão, as reticências, o dois-pontos, o ponto-e-vírgula... Seja porque não tinha lá muita intimidade com as regras de pontuação, deficiência esta associada à preguiça de aprendê-la — que é a hipótese mais provável — seja por conta de faniquito inventivo, o fato é que o escritor luso ateu criou essa regra onde mantém, nos seus escritos, apenas a vírgula e o ponto, os quais ele usa, respectivamente, em pausa curta e em pausa longa. Ressuscitou, portanto, aquela definição empírica antiga ensinada pela “fessora” do interior, segundo a qual vírgula e ponto servem para indicar pausas na leitura. Nem os pontos de interrogação e exclamação escaparam da sua fúria abolitiva, de modo que quem quiser entendê-lo, que trate de, primeiramente, aprender a sua exótica — e eu quase digo bisonha — regra de pontuação, ou melhor, de respiração. Vejamos um breve exemplo da sua verve pretensamente revolucionária nesse excerto abaixo, da sua obra “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, onde as aspas no início e final, que ele também expulsou dos seus escritos, são minhas:

A mul­her não respon­deu logo, olhava-o, por sua vez, como se o avaliasse, a pes­soa que era, que de din­heiros bem se via que não estava provido o pobre moço, e por fim disse, Guarda-me na tua lem­brança, nada mais, e Jesus, Não esque­cerei a tua bon­dade, e depois, enchendo-se de ânimo, Nem te esque­cerei a ti, Porquê, sor­riu a mul­her, Porque és bela, Não me con­heceste no tempo da minha beleza, Conheço-te na beleza desta hora. O sor­riso dela esmore­ceu, extinguiu-se, Sabes quem sou, o que faço, de que vivo, Sei, Não tiveste mais que olhar para mim e ficaste a saber tudo, Não sei nada, Que sou pros­ti­tuta, Isso sei, Que me deito com homens por din­heiro, Sim, Então é o que eu digo, sabes tudo de mim, Sei só isso.

    Num dos artigos que li sobre a proeza de Saramago, um conceituado crítico literário, PHD de não sei das quantas, desses que andam arrastando um saco abarrotado de títulos, disse que muitos leitores de Saramago terão que voltar páginas para, na releitura, tentar entender as construções do escritor, e disse isto, não em tom de crítica, mas de elogio, inaugurando aí o surrealismo literário: a partir de então, não é mais o escritor que deve se esmerar para atrair leitores mercê de uma escrita escorreita; os leitores, sim, é que devem espremer os seus neurônios para alcançar o que os saramagos da vida querem dizer.

   Não! Não rias, porque, se um dos defensores do método saramaguiano estiver por perto, ele pode calar a tua risada, enfiando-te um Prêmio Nobel goela abaixo. Sim! Poderás dizer que o Nobel, hoje, homenageia mais a política do que o mérito, mas nem por aí te salvarás, posto que prêmio é sempre prêmio. Ademais, haverá ainda um bando de doutores das letras, daqueles que são feras em escrever muito para dizer nada, defendendo o absurdo literário, quando deveriam combatê-lo.

    Portanto, se não queres correr o risco de receber um rótulo de leitor anacrônico, reacionário inexorável, um gagá das letras, trata de despejar na lixeira o teu “50 Tons de Cinza”, da E. L. James; e a obra do John Green (A Culpa é das Estrelas), que ainda são disputadas a trancos e quedas nas livrarias. O “Toda Sua”, da Sylvia Day, podes ainda ler em público, porque, com a moda neo-saramaguiana da escritora, provável macaca de auditório do escritor português, de, em vez do travessão, usar apenas aspas nos diálogos, os que se aventurarem a sair às ruas, sobraçando obras dela, não estarão tão sujeitos àqueles tratamentos discriminatórios. Na pior das hipóteses, o que pode acontecer é serem recebidos com sorrisos condescendentes no meio literário vanguardista, que aplaude a indolência premiada: “É isso aí, camarada! Você está ainda no jardim de infância da literatura, mas já é um começo”.

    Embora estando claro que não cabe culpa alguma a Saramago pela premiação recebida, pois errados mesmo foram os membros da entidade sueca que acataram e aprovaram o seu nome, ainda assim, provavelmente, por conta do meu ponto de vista, receberei, da horda defensora do escritor luso, apupos e inquirições indignadas: “Quem pensas tu que és, ô gajo, para te julgares capaz de desancar o nosso Nobel de Literatura? Que conhecimento literário tens para te achares apto a criticá-lo”.

    E direi em resposta: sou o mesmo que, para aplaudir o título de “Doutor Honoris Causa” concedido por tua afamada universidade a um “prizidenti” alcoólatra, fanfarrão e apedeuto, seriamente indiciado em crimes de corrupção, eu teria que estar tão bêbado quanto os que aprovaram tal concessão. Resta saber qual das duas ignorâncias é a mais nefasta: a minha, em Literatura; ou a dos teus professores superiores, em dignidade.

    Por fim, se leres o que dizem os defensores do Saramago neste link abaixo, certamente não verás consistência alguma nas defesas esmolambadas deles, mas aprenderás com eles a arte de escrever muito para dizer coisa alguma:

http://blogues.publico.pt/ciberescritas/2010/06/23/saramago-o-escritor-que-brinca-com-a-pontuacao/

 

N7M

http://net7mares.blogspot.com.br/2009/11/mar-do-ego.html

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