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POETRIX:
um filho feio de pai incerto
"Os “Poetrixes”, que vemos a derivar como
destroços nos mares poéticos, são frutos das escapadas daquela criatura goulartiana,
que, sem tomar cuidados contraceptivos, saiu a transar com um exército de
amantes eventuais, resultando, dessas aventuras, um magote de filhos
deformados, uns mostrengos que, de tão parecidos na forma esquisita, acabam
na condição de filho de todos os que se deitaram com a musa do Goulart."
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A
crônica de hoje é uma tentativa de resposta a uma amiga, uma consumada
poetisa de reconhecido talento, cujo nome, por razões óbvias, devo omitir.
Eis a sua pergunta, seguida da minha resposta:
"Como sua lógica é peculiar, diga-me: o
que acha dos poetrix — para mim, a picaretagem mor da poesia?".
O
poetrix é o resultado de uma inventiva aventura do poeta baiano Goulart
Gomes, que entendeu de formar tercetos para dizer, nessas três linhas, o que
os japoneses, nos seus haicus — de cuja última sílaba, imagino, é que a
plêiade lítero-poética tirou a expressão "poesia cocô-de-cabrito" —
diziam numa única linha vertical (a escrita japonesa não segue a direção
horizontal dos ocidentais). Nessa arrumação, Goulart, a rigor, não inventou
coisa alguma, porque os tercetos já eram praticados por Dante Alighieri e
outros, fato que ele mesmo, o Goulart, reconhece.
Originalmente,
o haicu, do qual originou-se o seu mal inventado haicai, apresenta-se numa única linha vertical de
17 sílabas, e que, na forma ocidentalizada pelo poeta baiano, acabaram
distribuídas em 3 versos de 5, 7 e 5 sílabas respectivamente, alteração que,
hoje, quase nenhum dos poetristas respeita. A formação japonesa, escrita
nessa linha única, limita-se apenas a fotografar um determinado momento, um
instantâneo paisagístico sobre coisas da Natureza, como, por exemplo, gotas
de chuva escorrendo numa vidraça... coisas desse tipo. É, em suma, uma
composição descritiva bem resumida e que, por assim ser, há de ter remotas
chances de suscitar poesia no espírito do leitor ocidental comum, habituado
que está a apreciar aquela composição poética tradicional, constituída de
versos rimados, metrificados, com enredo e chave-de-ouro.
Dessa
formação japonesa, Goulart alterou as regras originais, como, por exemplo, a
que se refere ao número total de sílabas poéticas — que, no novo formato,
passou de
Para melhor ser entendido, se personificássemos
essa criação goulart-davinciana na figura de uma mulher comum, teríamos o
Goulart como o deus que a criou. Poderíamos dizer, então, que a sua Haicai é
uma caricatura da Maria bíblica, que teria vindo ao mundo da Poesia para dar
à luz uma espécie de forma poética salvadora, capaz de redimir os maus poetas
de seus pecados. Os poetaços veriam então, nas facilidades ofereci - das pela salvadora criatura de três pernas,
o único caminho capaz de levá-los à redenção poética.
Todavia,
um deus que se preza deve ter o dom de criar coisas do nada, e, como o poeta
criativo deu forma à criatura, usando modelo que já existia no Oriente, ficou
ele na condição de um deus coxo, incompleto e, em tal condição, não houve
jeito de encontrar um espírito santo compreensivo, disposto a colaborar com a
sua obra, de modo a fecundá-la para, daí, nascer o messias salvador. E houve
então o impasse: a sua maria-haicai, à espera da fecundação, e os pecadores
das letras poéticas à espreita, ansiosos por verem nascer dela o cristo
prometido. Como ninguém vive de esperas, o poeta-deus, cansa- do de esperar e
já não sabendo mais se era criador ou marido da sua criação, largou-a no mundo da criação poética, nas mãos daqueles pecadores, os que, por falta
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de dom
poético, são incapazes de montar sequer um par de versos rimados, de modo que
esses acabaram vendo, na promíscua criatura goulartiana, uma chance de se
realizarem no leito das letras e, nessa expectativa, fecudaram-na, com cada
um assumindo a função do espírito divino ausente .
Ora!
De um encontro nessas circunstâncias, não poderia mesmo resultar coisa alguma
de valor, e o resultado aí está: um magote de bichos de 3 pernas, de
paternidade desconhecida ou de múltiplus pais, os poetrixistas, que, no caso,
figuram apenas como amantes ocasionais da
feiosa criatura inventada pelo Goulart, que
não obedecem a regra alguma e, tampouco, observam a característica da
original mãe nipônica haicu: o de, apenas, descrever um momento. Os
“Poetrixes”, que vemos a derivar como destroços nos mares poéticos, são frutos
das escapadas daquela criatura goulartiana, que, sem tomar cuidados
contraceptivos, saiu a transar com um exército de amantes ocasionais,
resultando, dessas aventuras, um magote de filhos deformados, uns mostrengos
que, de tão parecidos na forma esquisita, acabam na condição de filho de
todos os que deitaram com a musa do Goulart. Os “Poetrixes” constituem,
portanto, o resultado de uma concepção, da qual participaram os
espermatozóides do inventivo Goulart e de todos os que copulam com a criação
dele. Nessa conjuntura, o poeta baiano acabou na condição de um chifrudo
virtual, cuja amante sai pelo mundo poético, entregando-se a pseudo-poetas
ordinários, dentre esses tantos que infestam o universo literário internauta,
e que, por não possuírem dom algum para a arte poética, constroem coisa alguma
de valor aos olhos daqueles que sabem e reconhecem o bom poetizar, advindo
daí a razão de os bons poetas, aqueles que buscam as legítimas filhas de
Euterpe, torcerem o nariz quando cruzam o olhar com a haicai piranhuda do
Goulart e, mais ainda, com a filharada esdrúxula que ela carrega atrás de si:
uma prole composta de crianças malformadas, mal arrumadas, algumas — Duplix —
com duas cabeças; outras com várias, as Multiplix, que eu chamo de
Medusaplix; e todas, metidas numa marcha irregular, claudicante, tartamudeando
bobajadas infantis. E já que desgraça pouca é bobagem, o nosso Da Vinci
haiquista tupiniquim, tendo um site, construído em homenagem a amada, ainda
recebe, na sua casa virtual, numa consumada festa de humor negro poético que
não tem hora para acabar, os amantes da sua musa pérfida, para vê-la, no
estupro coletivo e impune, condenada a múltiplos partos de mais rebentos
horrendos. Como não me cabe na cabeça
que o Goulart tivesse a intenção de dar forma à tal criatura, para,
concedendo a ela a liberdade das doidivanas, acabar na condição de um
resignado pai de prole tão esquisita, não posso concordar com o termo
(picaretagem) usado por ti. A imagem que me parece mais apropriada é a de um
desastre, provocado por um premiado poeta, de reconhecida capacidade, que
inventou de buscar chifre em cabeça de cavalo e que, por castigo e dolorosa
ironia, acabou recebendo, na própria cabeça, o objeto da busca aventureira:
numerosos pares de cornos, que lhe foram brindados pela sua própria criação,
e o título de padrasto desventurado dessa filharada excêntrica, nascida dos
estupros sofridos pela sua amada haicai, cujos violentadores, sem dar a mínima
para as regras do Goulart, preocupam-se apenas em gerar monstros de 3 pernas,
e nada mais.
Por
fim, já que, acima, falamos de cópula, segue, abaixo, uma das obras do nosso
Goulart: uma filha que, embora mancando na métrica irregular, é bela,
resultado de um sublime ato de amor, não com a vadia que ele criou, mas com a
sua legitima esposa virtual: a bela e fiel Poesia.
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MEU INFERNO
Goulart Gomes
Quero chegar ao teu lugar nenhum
Poder achar nosso lugar comum
Prender as brisas, cativar o sol
Abocanhar-te, isca, morrer pelo
anzol
Percorrer caminhos, desvendar
mistérios
Andar sozinhos nos teus
hemisférios
Romper barreiras, atingir a lua
Sonhar teus sonhos, tê-la toda nua
Ah! Mulher, só tu, para deixar-me
assim
Degelar começos, ignorar o fim
Assumir pecados, irromper
fronteiras
Ser o gancho, a rede, o chão e a
esteira
Anda, vem morder minha maçã
Perder-se no ontem, achar o amanhã
Cair por terra, rasgar os véus
Cruzar infernos e subir aos céus.
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