CARTA À MUSA
Net 7 Mares
Não te irrites, musa amada,
Se estanco a ti meus versos,
Ou se os mando tão dispersos,
Que te deixo acabrunhada;
Nem penses que já te esqueço,
Por parecer arredio...
Fica certa: em ti confio,
E o teu amor bem mereço.
Se estanco a ti meus versos,
Ou se os mando tão dispersos,
Que te deixo acabrunhada;
Nem penses que já te esqueço,
Por parecer arredio...
Fica certa: em ti confio,
E o teu amor bem mereço.
Se, de ti, ando afastado,
É que tenho razão forte
Que envolve vida e morte,
A manter-me atarefado.
Não falo da morte à toa
Que acomete os de má sorte;
Eu falo é de outra morte:
Daquela que n'alma ecoa
Em poemas indigentes,
De poetas da indolência,
Onde, em versos sem cadência,
Rima e metro estão ausentes.
Ah! Sem esses componentes,
A alma vai sufocando
E, sem voz, vai definhando
Nas letras inconseqüentes
De gente "nariz pra cima",
Que se mete a poeta,
Mas que escreve e não completa
Nem sequer um par de rimas.
É gente que desconhece
Que'alma vive de poemas
Bem rimados nos fonemas,
Onde a emoção floresce.
Ou gente fazendo graça
Para amizades reles,
Aplaudindo, em URLs,
A poesia em desgraça.
Contra isso luto e clamo
E aqui vou pelejando,
Ainda que me afastando
Da musa que tanto amo;
Pois, com a alma assim ferida
Pela poesia torta,
Hei de ver-te, musa, morta,
E, sem ti: — Adeus, ó vida.
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