O POETA DOS 7 ERROS



Da série “Nelson Rodrigues Renascido”:

O POETA DOS 7 ERROS
Net 7 Mares

Neologismos só ficam bem numa composição quando se referem a situações já citada no texto. Inventar um verbo “enfadonha” no lugar do correto “enfada” apenas para fazer rima pobre com “sonha”, se não é barbarismo, é apelação que só piora o quadro.”
Não mais me alongarei, nem aqui, nem em artigos futuros, sobre assunto já tratado nos meus escritos anteriores, que é esse meu salutar hábito, uma quase obrigação, de comentar obras que me chegam à caixa postal. Digo apenas que, se alguém chega ao meu correio, trazendo um trabalho literário, há de ser porque quer vê-lo lido e, melhor ainda, comentado por mim; e mais não digo, porque estão, neste pequeno trecho, respostas a qualquer tipo de pergunta relacionada com esse meu saudável hábito.

Vamos, portanto, à bola da vez que são as obras do Hernandes Leão, o colega de letras que, mesmo não tendo o rei dos animais no nome completo real, prefere ser assim chamado, acrescentando ainda ao seu nome o aposto “Poeta das 7 Colinas”.

Até para prevenir-se de um possível caso de homonímia decorrente de nome de apenas um sobrenome, o Hernandes devia manter, no seu pseudônimo literário, antepondo-o ao Leão, o Silva, que, sendo selva, combina bem com o bicho. Ficaria então Hernandes Silva Leão; mas o poeta prefere ficar no dilema entre um e outro. Em certos caso, ele fica com o Silva; em outros, com o Leão, mas, em ambas as situações, mantendo o nome principal Hernandes. Pelo menos para mim, trata-se de caso inédito de semi-pseudonímia, em que metade do apelido tem o nome real, e metade é inventada. Todavia, isso pouco importa, porque o que pretendo comentar não é o autor e tampouco as suas indecisões antroponímicas. Se fiz aqui este pequeno adendo foi apenas para esclarecer aos meus escassos leitores que o remetente Hernandes Silva, conforme consta no campo do remetente do rabicho desta, é o mesmo Hernandes Leão, autor dos livros que o próprio divulga.

Pois bem... Eis que o “Poeta das 7 Colinas”, como aprecia ser chamado, chega à minha caixa, apresentando-me as suas duas obras, conforme pode ser visto na sua mensagem abaixo. Por ter enviado a mensagem ao meu endereço em resposta a uma postagem minha — aquela das piscinas dos carentes — devo conjecturar que o colega, sendo um dos meus destinatário da Comunidade Literária, há de estar bem ciente da minha disposição para, na medida do possível, atender àqueles que me visitam com o tácito pedido a que eu leia as obras que trazem. Por conseguinte, para não deixar dúvida alguma sobre o atendimento, leio, comento com a mais cristalina sinceridade, e entrego o comentário ao meu remetente, mas sempre enviando cópias do mesmo a trocentos endereços da Comunidade Literária, e isto sempre na esperança de que, de lá, venham contestações aos meus comentários. Se alguém respondeu, apoiando ou rechaçando as minhas críticas, não me lembro; mas, ainda assim, em homenagem à expectativa lógica, permaneço na mesma conduta.
Dito isto, lá fui eu aos dois endereços enviados pelo meu visitante, a ver se encontrava alguma amostra grátis sobre a qual pudesse comentar.

No primeiro, referente à obra “Flâmula Poética”, despenquei no vazio do erro 404, problema que, avisado por aqui, o Hernandes haverá de consertar; já no segundo, fui bem sucedido, e tão bem, que, tendo encontrado o link Visualizar páginas, cliquei nele e fui levado a um PDF, onde tive total acesso a cerca de 21 poemas e prosas, número que corresponde a quase 1/3 das 54 composições que compõem o seu livro.

Ainda na página inicial, antes de entrar no PDF, tive a minha atenção voltada para uma informação que, embora importante, aparecia em letras pequenas, esmaecidas, como que envergonhadas. Dizia: (com as palavras alteradas aqui por mim no tamanho e na cor) “Este livro foi premiado com o "PRÊMIO INTERARTE/2012"- categoria: melhores livros de poesias, do ano; pela ALG (Academia de Letras de Goiás) e LITERARTE (Associação Internacional de Escritores e Artistas).”.

Ao ler essa referência, eu, tomado de alegria, quase subia pelas paredes como uma lagartixa profissional. Alvíssaras! Será que, finalmente, me chegou alguma preciosidade sobre a qual poderei despejar meu franciscano estoque de confetes?
E assim, numa mistura de esperança e ansiedade, cliquei naquele link que me abriria as portas da poesia premiada, mas o que vi lá... já vos conto.

Para evitar contendas relacionadas com questões de direitos autorais, transcrevo, abaixo, em vez da composição inteira, somente alguns excertos da longa composição intitulada “O Poeta”, que reluto em chamar de poema, tão distante está dessa classificação.






O poeta vive, o poeta sonha...
O poeta jamais, se enfadonha
Pois, vive cada instante
De maneira inconstante


O poeta, passa noite a dentro...
O poeta, é um cavaleiro errante
O poeta, é, um pícaro amante...


Quando há dúvida no uso da vírgula, recomenda-se usá-la somente nos casos em que a sua ausência produz ambigüidade. Usá-la, a torto e a direito, como espécie de enfeite, correndo aí o risco de cometer o erro grosseiro — acontecido  em diversas passagens, não apenas dessa composição, mas em, praticamente, todas do livro — de separar o sujeito do seu predicado, depõe contra o autor e transforma o pretenso poema numa piada de mau gosto. O Hernandes deve, portanto, remover as vírgulas de “jamais” e de “Pois”, e tratar de removê-las também em todas as situações em que está separando o sujeito do seu predicado (que não é o caso dessas duas apontadas acima, pois que estão ali sem justificativa alguma), conforme mostrado em algumas passagens que transcrevi abaixo da estrofe ao lado. Observem que o sujeito está sublinhado.

  Net 7 Mares

Dizem que a pontuação
— E quem diz, di-lo bem dito —
É o traje mais bonito
Na melhor concepção
Que podemos dar a um escrito.

Mas dizem que o conteúdo
Vale mais que a aparência;
E eu digo, em advertência:
— A vírgula, sei, não é tudo,
Mas combate a ambivalência.

Se o sinal é um aliado
A um melhor entendimento
E ao bom acabamento,
Eis que temos, bem trajado,
Um texto a qualquer evento.

Nada a ver com a lambança
Do errado que não muda:
Aquele "deus-nos-acuda"
Da vírgula que, em textos, dança
De chinelos e bermuda.

Neologismos só ficam bem numa composição quando se referem a situações já citada no texto. Inventar um verbo “enfadonha” no lugar do correto “enfada” apenas para fazer rima pobre com “sonha”, se não é barbarismo, é apelação que só piora o quadro.
Sua arma...
São suas palavras... poderosas!
Talvez, seja seu carma
Mas, com certeza, são honrosas e proveitosas

Sua vida, é cheia de contradições
Hora fala do bem, hora fala do mal... tudo com sageza!
Mas, mesmo do sinistro, fala com beleza
Tudo se deve, à sua capacidade... com as emoções!
— Reticências sem justificativa;
— “Talvez” separado por vírgula;
— Métrica irregular;
— O sujeito “Sua vida” separado do predicado;
— Excesso de vírgula em “Tudo se deve,
— Numa estrofe, rimas intercaladas (ABAB); noutra, interpoladas (ABBA), em mais outras, versos brancos, numa consumada anarquia no que se refere à regularidade rimática.

Foi aqui que comecei a entender o porquê daquela referência às duas premiações recebidas pela obra, escrita em palavras esmaecidas como que envergonhadas.
Enjoado e até enojado com tal quantidade de solecismos, parei por aqui... A leitura d’O POETA foi o bastante para frustrar-me naquela expectativa de encontrar o que as duas premiações prometiam. O que encontrei foi um amontoado de estrofes carregadas de preciosismos, que debocham da forma poética nas regras de regularidade métrica e rimática, e tudo escrito dentro de uma gramática aloucada.
Quem quiser conferir, que vá ao endereço informado pelo autor — http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1334630600431 — e clique em “Visualizar páginas”. Mas que vá logo antes que o autor remova de lá o PDF que contém o seu jogo dos 7 erros.

Net 7 Mares


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