O PARNASIANISMO (Literatura) ESTÁ PARA O EXPRESSIONISMO (Pintura) ASSIM COMO...

 


O PARNASIANISMO (Literatura) ESTÁ PARA O EXPRESSIONISMO (Pintura) ASSIM COMO...

Net 7 Mares

"ora, você criticar-me alegra-me tanto quanto as dezenas de felicitações não-pagas que recebo." (JonyDerme).

    Poema, segundo o meu entendimento, tem que ter rimas ricas, métrica perfeita, tonicidade regular e chave-de-ouro; e, mesmo assim, ainda que atendendo a esses elementos da forma, muitos serão percorridos pelos meus olhos da mesma forma com que percorro, enfastiado, as repetidas paisagens do cotidiano.

    Na Pintura, também prevalece esse meu espírito tradicionalista, de modo que só vejo graça em telas realistas. Posso consumir horas, assistindo prazerosamente ao trabalho de um pintor de paisagens, mas não tenho a menor disposição para consumir alguns míseros segundos que sejam, assistindo a um expressionista pichando garatujas numa tela.

    A semente desta crônica foi plantada por ocasião do convite coletivo que recebi do pintor Jony Derme — nome alterado para prevenir-me de choramingas relacionadas com privacidade e coisa e tal — a que eu visitasse o seu ateliê virtual. Na sua mensagem, vinha impressa uma pequena mostra da sua arte: uma seqüência de caras inexpressivas, onde o ponto comum era o nariz achatado. O homem denotava, nessa pequena mostra, certa fixação por caras adornadas por nariz abatatado.

    Vez que o meu gosto pictórico passa bem distante desse tipo de arte, eu podia simplesmente acionar um Delete na sua mensagem  e seguir em frente na leituras das demais. Todavia, visto que, de modo geral, ninguém dá atenção a convites coletivos, vislumbrei ali uma oportunidade de praticar o que chamamos de boa-ação: responder ao seu convite, agradecendo e, ao mesmo tempo, em função do me gosto por obras de escola mais tradicional, declinar do mesmo. Ora! Considerando que, na esmagadora maioria das vezes, ninguém manifesta sequer um til às postagens de obras na Internet, eu devia, logicamente, esperar que o Jony, amenizado na sua solidão de respostas, prostrar-se-ia aos meus pés, para cobri-los de agradecidos beijos. Observem bem: a gratidão do pintor não teria ligação alguma com supostos elogios, posto que sendo o silêncio é a pior forma de crítica, o João, segundo a minha razoável expectativa, quedaria agradecido apenas pelo fato de eu ter consumido alguns minutos no exame das suas obras e, de tal modo estaria grato, que, se eu respondesse com um lacônico e malcriado “vá aprender Pintura”, ainda assim, ele, além de agradecer, ainda pediria desculpas por ter me importunado com o seu inoportuno convite.

    Foi aí que, na digitação da minha resposta, surgiu a pergunta que fiz a mim mesmo: e se o Jony, contrariando essa lógica, reagisse mal à minha recusa? Para respondeer a esta pergunta, cabe aqui um breve retrospecto. Façamo-lo então:

    Tão logo ingressei no mundo da comunidade literária internauta na década de 90, passei a receber volumosas remessas de obras escritas. Diariamente, quando abria a porta do meu correio, lá estava a fila de poemas, crônicas, prosas, etc. Cheguei a receber, em apenas um dia, mais de quarenta, entre as quais poucas se salvavam. No geral, era tudo literatice ordinária, e o  jeito que encontrei para livrar-me dessa avalanche de letras ruins foi o de passar a comentar acidamente algumas, mas sempre enviando cópia dos meus comentários aos mais de 500 endereços que tenho na pasta "Comunidade Literária". Foi uma manobra arriscada, porque, ainda que, nos meus comentários, eu zoasse impiedosamente sobre a paupérrima qualidade dos escritos, podia acontecer de, em prevalecendo a lógica, a quantidade desse lixo aumentar na minha caixa do correio. Mas que lógica seria essa? Simples: se alguém cria qualquer obra artística, é bem razoável imaginar que o criador sempre há de esperar que o seu trabalho receba atenção dos destinatários. Ora! A única certeza que nós, os receptores, podemos dar ao autor de que lemos o seu trabalho é comentá-lo. Por aí, considerando que, na esmagadora maioria das vezes, praticamente ninguém comenta sobre nada que é postado na Internet, se eu passasse a adotar a prestimosa conduta de manifestar a minha sincera opinião ao que me era enviado, podia acontecer o inverso daquilo que eu esperava: uma multidão de poetaços e escrevinhadores, enfileirados à minha porta, com as mãos enconchadas, ansiosas pelas migalhas da escassa atenção. Sim, isso bem podia acontecer, vez que, naquela lógica que eu imaginava, era de se esperar que os autores remetentes, ao receberam os meus comentários, menoscabados que fossem, prostrar-se-iam aos meu pés para cobri-los de agradecidos beijos. Todavia, as reações espinhosas que vi em autores que sofreram comentários depreciativos indicavam que, no geral, o que os remetentes dessas obras queriam era a louvaminha gratuita, pouco importando se são falsas; e a reação do pintor impressionista Jony Derme, vista na sua réplica abaixo, é apenas uma confirmação daquilo que, de ordinário, acontece.

    Dentro da nova visão que passei a ter desse fenômeno de lógica invertida, considerei que eu estava no caminho certo: quanto mais comentários azedos eu fizesse, menos lixo teria no meu correio; e foi o que aconteceu, advindo daí, de sobejo, mais um ganho: o de eu ter decoberto em mim mesmo um certo desembaraço no exercício da crônica.

----- Original Message -----

From: Jony Derme

To: Net 7 Mares

Subject: Re: Parnasianismo está para Realismo, assim como...

"ora, você criticar-me alegra-me tanto quanto as dezenas de felicitações não-pagas que recebo.

chamou-me a atenção o modo obsessivo com que você burila as palavras, sem que algo seja expresso de fato.
seguindo as suas próprias metáforas sexuais, pareceu-me seu email a "fértil" obra de um onanista.
quanto à sua auto-propalada "ignorância em artes", permito-me fazer minhas as suas palavras.

Em 23 de julho de 2011 04:07, ANSELMO (Net 7 Mares) escreveu:

    Partindo do princípio, baseado em pura lógica, segunda o qual todo artista aprecia ver comentários sobre as suas obras, aí vai a minha colaboração:

    Na relação Arte Poética versus Pintura, pode-se montar a seguinte proporção: o Parnasianismo está para o Realismo, assim como a prosa poética está para o Expressionismo, ou surrealismo ou outra qualquer invencionice pictórica que nada tem a ver com a realidade. Por conseguinte, a impossibilidade que reside no prosador de criar um poema parnasiano é a mesma que o o pintor expressionista tem de criar uma obra realista, o que faz, de ambos (prosador e expressionista), artistas capengas, que tentam dissimular a limitação artística com maluquices. Numa comparação mais grosseira, mas não menos fiel, eu diria que o poema, rico de rimas, métrica e tonicidade perfeita, tanto quanto uma pintura realista, é um evento sexual que, fundamentado no amor, basta-se a si mesmo; enquanto que a pintura feita de traços absurdos, tanto quanto a composição feita de versos brancos, é o sexo fundamentado apenas na necessidade fisiológica, o qual, por não obter satisfação plena, vai-se reinventando como que mergulhado num saco sem fundo, e, de tal modo, que, em determinado momento, pinturas feitas, respectivamente, por um ser humano e um símio se confundem numa só coisa.

     O premiadíssimo amigo Celito Medeiros, vencedor de seguidos "Top Tens" e o único pintor brasileiro (que eu saiba) a ter as suas telas expostas no Louvre, disse-me que um certo "artista" expôs as suas fezes numa dessa bienais que acontecem mundo afora. Há de ter sido, certamente, obra de algum escultor de limitadas possibilidades que anda perdido dentro daquele saco sem fundo. No sexo sem amor, o escultor que não sabe esculpir come os excrementos da parceira, copula com animais e segue por aí afora, sempre ultrapassando os extremos.

    Agradeço, portanto, o gentil convite, mas, tomando por base a resumida mostra que veio na sua mensagem, tenho melhor alternativa de lazer do que rumar o navegador a um site para apenas assistir ao reflexo de uma incapacidade artística na seqüência de narizes achatados, plantados em caras inexpressivas. O que vi até aqui me basta. De resto, espero que o anfitrião saiba bem a diferença entre comentarista e crítico de arte.

 Net 7 Mares

http://net7mares.blogspot.com/2009/11/mar-do-ego.html

 

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